quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A carne que comemos (parte V)



 Curso d‘água recebe esgotos não tratados gerando risco decontaminação, em Bonito.. Imagem: TERESA MAIA / D. A PRESS


A lógica da insalubridade

Apesar de o conceito de sustentabilidade ambiental estar no centro das discussões no mundo dos negócios, nos matadouros de Pernambuco essa ideia está completamente distante da realidade. Com um orçamento apertado ou sem estrutura física que comporte uma área de tratamento dos efluentes (resíduos líquidos e sólidos), como por exemplo, uma lagoa de estabilização, muitas prefeituras do interior pernambucano seguem lançando os dejetos do abate bovino no meio ambiente. Tal prática provoca, entre outros danos, desgaste ecológico, comprometimento dos recursos hídricos e disseminação de doenças.

Para o coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), André Silvani, os prejuízos ambientais decorrentes da atividade irregular dos abatedouros são "um problema generalizado" e, por isso, difícil de enfrentar. "Sabemos que há questões políticas por trás disso porque, mesmo sem condições de manter uma unidade de abate, os prefeitos não abrem mão de ter uma na sua cidade. São avessos a mudança e, por interesses pequenos, passam por cima da saúde pública e do meio ambiente", afirmou Silvani.

Segundo ele, o procedimento correto sempre exigirá investimentos, mas é preciso estabelecer parcerias com o governo e com a iniciativa privada para viabilizar o tratamento dos resíduos, beneficiando o meio ambiente e a população. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, das sete cidades visitadas pelo Diario, apenas nos abatedouros de Paulista (que é arrendado) e de Paudalho (de responsabilidade estadual) os resíduos são tratados. Nos demais são jogados a céu aberto.

O perigo se torna ainda maior quando cursos d′água recebem cargas desse esgoto não tratado. A população consumidora dessas águas ficam vulneráveis a doenças como amebíase, hepatite infecciosa, diarreia e desinteria, esquistossomose, cólera e febre tifoide. O capítulo 18 da Agenda 21, plano mundial de metas ambientais, estima que um terço das mortes em países em desenvolvimento é causada pelo consumo de água contaminada.

Diferente do que se vê nos municípios do interior do estado, em Paulista, a estação de tratamento possui caldeira, graxaria, digestores, esterqueiras, caixa de gordura, tanque de decantação e retenção final e lagoa de estabilização. "Todo sistema é monitorado pela CPRH (Agência Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), graças a um acordo feito com o Ministério Público de Pernambuco", explicou Maria do Socorro Lisboa, proprietária do abatedouro de Paulista.
Vivenciando uma realidade distinta de outros administradores, Maria do Socorro afirma que seu abatedouro tem dado lucro, mas reclama que sem ajuda dos governos municipal e estadual o custo para a manutenção é alto. Ela também afirma que é possível ganhar dinheiro com o que antes era desperdiçado. "O sebo que é retido nos digestores é vendido, a parte sólida também vira ração animal. Os chifres e os cascos vão para Natal (RN), onde são usados em laboratórios e como artesanato. Nada se perde e isso se torna vantagem para nós".

Continua...
DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR

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